Dia: 27 de março de 2022

Testosterona aumenta o hematócrito?

O uso de testosterona aumenta o hematócrito?

Sabemos que o uso de testosterona está diretamente associado a uma série de possíveis efeitos colaterais. Entre eles, um possível colateral muitas vezes subestimado é o aumento do hematócrito.

Mas a final, a testosterona realmente aumenta o hematócrito?

Para responder essa pergunta Nackeeran e colaboradores realizaram uma metanálise puplicada em 2022 que avaliou 29 estudos duplo cego randomizados com placebo, alcançando uma amostra de 3393 homens. Nesses estudos, foi avaliado a alteração do hematócrito em homens hipogonádicos que utilizavam testosterona em doses de reposição.

A revisão mostrou que todos os tipos de terapias de reposição de testosterona resultam em aumento estatisticamente significativos no hematócrito médio quando comparados com placebo. Onde o undecanoato de testosterona oral foi o que proporcionou o maior aumento (média de 4,3%) e o adesivo o menor aumento (cerca de 1,4%). Já a aplicação intramuscular de enantato/cipionato de testosterona gerou um aumento médio de 4,0%.

A partir disso, conclui-se que todos os tipos de testosterona estão associados ao aumento discreto do hematócrito. Entretanto, esse aumento não se provou clinicamente relevante, não sendo um marcador definitivo de aumento de risco cardiovascular ou mesmo tromboembólico.

Apesar disso, vale ressaltar que esses estudos avaliaram pacientes utilizando doses em níveis fisiológicos de testosterona. Quando falamos de situações em que as doses alcançam valores superiores ao fisiológico, o aumento de hematócrito tende a ser maior, podendo muitas vezes alcançar valores superiores aos avaliados nos estudos.

Sendo assim, apesar de o uso de testosterona em níveis fisiológicos ter boa segurança de uso em relação ao hematócrito, dados referentes ao uso de doses supra fisiológicas, ou mesmo estudos avaliando associações de drogas, são escassos. Sendo assim, é recomendado que nessas situações, seja realizado um acompanhamento médico de perto, para que dessa forma, as alterações sejam mais bem avaliadas e conduzidas.

Referências

É seguro usar testosterona em mulheres?

Testosterona em mulheres: segurança e efeitos colaterais

A utilização de testosterona em mulheres é algo que gera muita insegurança e divergência de opiniões entre pacientes e profissionais saúde. Devido ao seu caráter predominantemente androgênico em relação ao potencial anabólico, seu uso se torna questionável em situações em que o objetivo do uso seja o aumento da massa muscular em mulheres.

Entretanto, doenças como a síndrome do desejo sexual hipoativo (DSH) possuem como tratamento de escolha a utilização desse tipo de medicação. Sendo assim, surge o questionamento, a utilização de testosterona em mulheres com indicação clínica de uso é realmente é algo seguro?

Para responder a essa pergunta quero te apresentar uma meta-análise que avaliou 36 estudos clínicos randomizados com uma amostra de mais de 8480 participantes. Nesse estudo foi avaliado a eficácia, segurança e potenciais efeitos colaterais do uso de testosterona em mulheres.

O estudo mostrou que a testosterona realmente é eficaz no tratamento do desejo sexual hipoativo feminino, melhorando a satisfação e função sexual nas mulheres pós menopausa.

Já os principais efeitos colaterais relatados, foram: aumento do LDL e triglicerídeos e diminuição do HDL. Entretanto, esses efeitos foram vistos apenas na medicação via oral, não ocorrendo na aplicação transdérmica, sugerindo que essa via como preferencial no tratamento. Por fim, outros colaterais relatos foram acne e crescimento de pelos. Vale ressaltar que efeitos adversos graves não foram relatados em nenhum dos estudos avaliados.

Outro ponto que pode gerar certa apreensão é o fato de a testosterona ser convertida pela enzima aromatase em estrogênio. A partir disso, alguns profissionais temem que esse aumento do estrogênio possa aumentar o risco de doenças como o câncer de mama, por exemplo.

Para avaliar se esse risco teórico se evidenciaria na prática clínica, uma equipe de pesquisadores realizou uma revisão avaliando o risco de câncer de mama em paciente utilizando testosterona. O resultado surpreendeu, além de não aumentar o risco de câncer de mama, o uso de testosterona é capaz de REDUZIR o risco do desenvolvimento da doença.

Além disso, o estudo ainda trouxe uma alternativa terapêutica utilizada em populações selecionadas, em que o aumento do estradiol geraria um aumento de risco inaceitável. Nessas pacientes, a combinação entre testosterona e anastrozol se mostrou segura e ainda foi eficaz em diminuir o tamanho do tumor nas mulheres com diagnóstico de CA de mama.

A partir dos estudos apresentados, vemos que a utilização de testosterona é sim segura nas mulheres. Entretanto, vale ressaltar que os estudos avaliaram a utilização da testosterona na faixa de 300 µg por dia. A utilização de doses supra fisiológicas aumenta os efeitos adversos do medicamento, podendo assim cursar com aumento dos efeitos já descritos, além de piora metabólica, aumento do risco cardiovascular, clitoromegalia e alteração da voz.

Referências

Doi: 10.1016/S2213-8587(19)30189-5

Doi: 10.1016/j.maturitas.2015.06.002