Dia: 21 de fevereiro de 2022

Anticoncepcional engorda?

Você vai engordar se usar Anticoncepcional!?

Essa é uma frase que se toda mulher já escutou em algum momento! Entretanto, será que isso realmente ocorre? E se ocorre, quais são as razões para esse tipo de acontecimento?

Para entendermos isso, primeiramente eu preciso te explicar quais substâncias podem fazer parte de um anticoncepcional oral combinado (ACO). Esse tipo de medicamente possui um estrogênio, geralmente o Etinilestradiol (EE), associado a uma progestina. Essa progestina é sintetizada de 3 substratos principais: Testosterona, Progesterona e Aldosterona, sendo assim, existem diversas combinações de progestinas que podem acompanhar o EE.

E é especialmente por conta disso que os efeitos colaterais podem variar tanto de um anticoncepcional para outro. Teoricamente, o EE possui um certo potencial glicocorticoide, auxiliando na retenção líquida e potencialmente gerando um leve aumento de peso. Entretanto, as progestinas, podem possuir os efeitos mais variados, atuando com um potencial androgênico, antiandrogênico, glicocorticoide ou até mesmo anti-glicocorticoide, esse último, em teoria, auxiliaria inclusive na diminuição da retenção líquida, gerando em certo grau, perca de peso. 

Após essa introdução baseada no mecanismo teórico, vamos para os estudos que avaliam o desfecho clínico desse tipo de medicação. Uma metanalise realizada por Maria Gallo e sua equipe que analisou mais de 52 métodos contraceptivos distintos. A conclusão do estudo foi que nenhum grande efeito dos ACOs sobre o peso, foi evidente.

Quando analisamos subpopulações, como mulheres obesas, ou mesmo atletas por exemplo, os resultados são similares. Estudos duplo cego e randomizado realizados nessas subpopulações nos mostram que EE/Levonorgestrel não estão associados a mudança de peso, composição corporal ou alteração de desempenho físico.

Por outro lado, existem evidências que certos anticoncepcionais podem sim interferir de forma leve no peso. Um estudo comparando a utilização de ACO com EE associado a Drospirenona vs Acetato de Clormadinona (CMA) mostrou que as mulheres que usaram CMA ganharam em média 1 kg e as que usaram DRSP perderam em média 0,4 kg após 6 semanas. Essa diferença em relação ao peso inicial pode ser dar devido a DRSP possuir uma ação anti-mineralocorticoide, a qual provavelmente auxiliou na diminuição da retenção líquida. Já o CMA possui ação inversa, aumentando a retenção líquida.

A partir do apresentado, concluímos que em geral, ACO não está relacionado ao aumento de peso. Entretanto, é provável que certas medicações possam contribuir com aumento leve do peso, euqnato outras podem inclusive contribuir com a redução do peso. Sendo assim, torna-se claro que o mais adequado é escolha conjunta entre médico e paciente pela melhor combinação de ACO, a fim de se alcançar o resultado esperado com o menor nível de colaterais.

Referências

Comparison of change in body weight between contraception containing 30-µg ethinylestradiol/2-mg chlormadinone acetate or 30-µg ethinylestradiol/3-mg drospirenone: a randomised controlled trial

https://doi.org/10.1080/13625187.2019.1688290

 

Weight and Body Composition Changes During Oral Contraceptive Use in Obese and Normal Weight Women

DOI: 10.1089/jwh.2012.4241

 

Combination contraceptives: effects on weight (Review)

 10.1002/14651858.cd003987.pub5 

 

Oral Contraceptive Use does not Negatively Affect Body Composition and Strength Adaptations in Trained Women

doi:10.1055/a-0985-4373 

Tratamento Farmacológico da Ginecomastia

Existe remédio para tratar ginecomastia?

O aumento do tecido e sensibilidade mamária é um problema comum que geralmente ocorre em situações de desbalanço entre os níveis de Estrogênio e Testosterona. Sendo assim, esse tipo de condição acomete especialmente adolescentes que estão iniciando na puberdade e homens adultos em terapia de privação androgênica (devido ao câncer de próstata, por exemplo). Além disso, usuários de esteroides anabolizantes, eventualmente, também podem apresentar esse tipo de quadro clínico.

Além do aumento decorrente da sensibilidade e desconforto local, é notório o incômodo devido a um prejuízo estético. Sendo assim, diante dessa patologia, é comum a necessidade de tratamento cirúrgico para remoção de parte da glândula e, com isso, resolução do quadro clínico. Mas além do tratamento cirúrgico, é possível a realização de um tratamento clínico para essa patologia?

Para responder essa pergunta, vamos falar hoje das 3 principais linhas de tratamento farmacológico que vem sendo estudadas para essa condição: Os moduladores seletivos do receptor de estrogênio (SERMs), inibidores da enzima aromatase e os hormônios androgênicos.

Como falado anteriormente, o quadro de ginecomastia geralmente é desencadeado pelo desbalanço entre os níveis de estrogênio e testosterona. Sendo assim, em homens com hipogonadismo, a reposição de testosterona pode ser capaz de auxiliar no quadro clínico. Entretanto, em homens eugonádicos, esse benefício não ocorre.

Outra classe de medicamentos muito falada são os inibidores da aromatase, tendo como uma das drogas mais conhecidas o anastrozol. Seu uso muitas vezes é empregado devido ao mecanismo bioquímico da droga de diminuir os níveis de estrogênio circulantes. Apesar de fazer sentido farmacológico, o desfecho clínico não vem se mostrando eficaz. Um estudo duplo cego randomizado realizado em pacientes com ginecomastia puberal, demonstrou não haver diferença significativa na porcentagem de pacientes com redução de 50% ou mais no volume total da mama, calculado a partir de medidas ultrassonográficas, entre os grupos anastrozol e placebo.

Para finalizar, vamos falar dos SERMs. Uma série de estudos demonstraram que a utilização de tamoxifeno e especialmente o Raloxifeno foram positivos na diminuição do volume e sensibilidade mamária. A redução do tecido mamário chegou a ocorrer em cerca de 70% dos pacientes em um estudo duplo cego randomizado realizado em idosos com ginecomastia de diversas causas. Um ponto importante, é que revisões mais recentes apontam que esse tipo de medicação diminui muito sua eficácia quando utilizada em pacientes com quadros de mais de um ano de evolução.

Diante disso, vemos que apesar de os dados dos ensaios clínicos serem limitados, existe evidência que suporta a possibilidade de tratamento clínico em casos iniciais de ginecomastia. Associado a isso, vale ressaltar que especialmente em usuários de esteroides anabolizantes, muitas vezes o mais prudente é reduzir ou mesmo cessar as doses de hormônios em uso. Por fim, é importante frisar que o tratamento profilático para a ginecomastia em usuários de esteroides anabolizantes, é algo inadequado.

Referências